Melhor aluno critica sistema escolar em discurso de graduação

Erica Goldson
America Via Erica
Traduzido pelo grupo de tradução português
22/08/10


Comentário: O seguinte discurso foi dado pela melhor aluna do seu ano, Erica Goldson, durante a cerimonia de graduação no Liceu Coxsackie-Athens no dia 25 de Junho, 2010.



Aqui estou eu.

Existe uma historia de um novo, mas sincero, estudante de Zen que se aproximou do seu professor, e perguntou ao Mestre, “Se eu trabalhar duramente e diligentemente, quanto tempo levarei até encontrar o Zen? O Mestre pensou sobre isto, e respondeu, “Dez anos … “ O aluno disse depois, “Mas e se eu trabalhar muito, muito duramente e realmente me aplicar para aprender depressa – Quanto tempo então?” O Mestre respondeu, “Bem, vinte anos.” “Mas e se eu trabalhar realmente, realmente muito, quanto tempo então?” perguntou o aluno. “Trinta anos,” respondeu o Mestre. “Mas, eu não compreendo,” disse o desapontado aluno. “ De cada vez que digo que vou trabalhar mais arduamente, você diz que me vai levar mais tempo. Porque diz isso?” Respondeu o Mestre, “Quando se tem um olho no objectivo, só se tem um olho no caminho.”...Clique no título para ler mais...

Este é o dilema que eu enfrentei no sistema educacional Americano. Nós estamos tão focados no objectivo, quer ele seja passar um teste, ou acabar o ano como melhor da turma. Contudo, deste modo, nós não aprendemos verdadeiramente. Fazemos tudo o que for preciso para alcançar o objectivo original.

Alguns de vós podem estar a pensar, “Bem, se passares um teste, ou te tornares a melhor da turma, não aprendeste alguma coisa?” Bem, sim, aprendemos alguma coisa, mas não tudo o que poderíamos ter aprendido. Talvez, só tenhamos aprendido como decorar nomes, sítios e datas para mais tarde nos esquecermos para limparmos a nossa mente para o próximo teste. A escola não é tudo o que pode ser. Neste momento, é um sítio para a maior parte das pessoas determinarem que o seu objectivo é sair o mais rápido possível.

Estou agora a cumprir esse objectivo. Devia olhar para isto como uma experiência positiva, especialmente tendo sido a melhor da turma. No entanto, em retrospectiva, não posso dizer que sou mais inteligente que os meus companheiros. Posso atestar que sou apenas a melhor a fazer aquilo que me dizem e a trabalhar dentro dos limites do sistema. Mesmo assim, aqui estou, e é suposto estar orgulhosa por ter completado este período de doutrinação. Irei no Outono para a próxima fase que é esperada de mim, de modo a receber um documento que me certifica como capaz de trabalhar. Mas eu contesto que sou um ser humano, uma pensadora, uma aventureira – não uma trabalhadora. Um trabalhador é alguém que está preso numa repetição – um escravo do sistema que foi posto perante ele. Mas agora, demonstrei com sucesso que eu fui a melhor escrava. Fiz o que me disseram até ao extremo. Enquanto outros se sentavam nas aulas e desenhavam nos cadernos para mais tarde serem grandes artistas, eu sentava-me nas aulas para tirar notas e tornar-me numa grande “fazedora” de teste. Enquanto outros vinham para as aulas sem os trabalhos de casa feitos porque estavam a ler algo do seu interesse, eu nunca falhei um trabalho. Enquanto outros estavam a criar musica e a escrever líricas eu decidi obter créditos extra, mesmo nunca precisando deles. Daí, pergunto-me, porque que é que quis esta posição? Sim, eu ganhei-a, mas o que vai surgir dela? Quando sair do institucionalismo educacional, serei alguém com sucesso ou estarei para sempre perdida? Não tenho ideia daquilo que quero fazer com a minha vida; não tenho interesse porque vi todo o objecto de estudo como trabalho, e fui a melhor em todas as matérias só pelo propósito de ser a melhor, não para aprender. E sinceramente agora estou assustada.

John Taylor Gatto, um professor escolar retirado e activista critico da escola compulsória, diz, “Nós podíamos encorajar as melhores qualidades da juventude – curiosidade, aventura, resiliência, a capacidade de perspicácia surpreendente simplesmente por serem mais flexíveis sobre tempo, textos e testes, transformando os jovens em verdadeiros adultos competentes, e dando a cada aluno a autonomia que ele ou ela requerem de maneira a arriscarem uma ou outra vez. Mas nós não fazemos isso.” Entre estas paredes de tijolo, somos todos esperados que sejamos iguais. Nós somos treinados para passar com boas notas todos os testes estandardizados, e aqueles que se desviam e vêm luz através de umas lentes diferentes não valem nada para o esquema da educação publica, e são assim vistos com desprezo.

H. L. Mencken escreveu no American Mercury de Abril de 1924 que o objectivo da educação publica não é “preencher os novos da espécie com conhecimento e acordar a sua inteligência. … Nada podia estar mais longe da verdade. O objectivo é … simplesmente reduzir o maior número possível de indivíduos ao mesmo nível seguro, criar e treinar cidadania estandardizada, para matar divergências e originalidade. È esse o objectivo dos Estados Unidos.

Comentário: A passagem inteira é a seguinte: O objectivo da educação publica não é espalhar o esclarecimento; é simplesmente reduzir o maior número possível de indivíduos ao mesmo nível seguro, criar e treinar cidadania estandardizada, para matar divergências e originalidade. È esse o objectivo dos Estados Unidos, quaisquer que sejam as pretensões de politicos, pedagogos, e é esse o seu objectivo em todos os outros sítios.

Para ilustrar esta ideia, não vos perturba aprender sobre a ideia de “pensamento critico”. Existe mesmo alguma coisa como “pensamento não critico”? Pensar é processar informação para se formar uma opinião. Mas se não formos críticos quando processamos esta informação, estaremos mesmo a pensar? Ou estamos a aceitar outras opiniões como verdade sem pensarmos?

Isto estava a acontecer comigo, e se não fosse a rara ocorrência de uma professora de Inglês avant-garde no décimo ano, Donna Bryan, que me permitiu abrir a mente e perguntar antes de aceitar a doutrina que vinha nos livros, eu estaria condenada. Eu estou agora esclarecida, mas a minha mente ainda se sente desabilitada. Tenho de me re-treinar e lembrar-me constantemente quanto louco este aparente sano sitio realmente é.

E agora, aqui estou, num mundo guiado pelo medo, um mundo que reprime a singularidade que reside dentro de cada um de nós, um mundo onde podemos ou aceitar o disparate desumano do corporativismo e materialismo ou insistir em mudança. Não somos inspirados por um sistema educacional que clandestinamente nos prepara trabalhos que poderiam ser automatizados, para trabalhos que não precisam de ser feitos, para escravatura sem fervor para uma realização com sentido. Nós não temos escolhas na vida quando o dinheiro é a nossa força motivacional. A nossa força motivacional deveria ser paixão, mas isto é perdido a partir do momento em que entramos num sistema que nos treina ao contrario de nos inspirar.

Nós somos mais que estantes de livros robotizadas, condicionados para expelir factos que aprendemos na escola. Nós somos todos muito especiais, todo e qualquer ser humano neste planeta é tão especial, será que não merecemos algo de melhor, de usar-mos as nossas mentes para a inovação, em vez de memorizar, para a criatividade em vez de actividade fútil, para contemplação em vez de estagnação? Nós não estamos aqui para obter um diploma, para depois obter um emprego, de modo a podermos consumir satisfações atrás de satisfações aprovadas pela industria. Há mais, e mais ainda.

A parte triste é que a maioria dos estudantes não têm a oportunidade para reflectir como eu tive. A maioria dos estudantes são expostos às mesma técnicas de lavagem cerebral para que se crie uma força de trabalho complacente que trabalhe para os interesses de grandes corporações e do governo, e pior do que tudo, eles estão completamente ignorantes disso. Eu nunca poderei voltar atrás estes 18 anos. Eu não posso fugir para outro país com um sistema de educação com o propósito de esclarecer em vez de condicionar. Esta parte da minha vida acabou, e quero ter a certeza de que mais nenhuma criança irá ter o seu potencial suprimido por poderes que tencionam explorar e controlar. Nós somos seres humanos. Nós somos pensadores, sonhadores, exploradores, artistas, escritores, engenheiros. Nós somos qualquer coisa que queiramos ser – mas apenas se tivermos um sistema educacional que nos suporte ao invés de nos prender. Uma árvore pode crescer, mas apenas se ás suas raízes forem dadas uma fundação saudável.

Para todos vocês ai fora que têm de continuar sentados em secretarias e a submeterem-se ás ideologias autoritárias dos instrutores, não desanimem. Ainda têm oportunidade de resistirem, perguntar questões, ser critico e criar as vossas próprias perspectivas. Exijam um ambiente que vos proporcione capacidades intelectuais que vos permitam expandir a vossa mente ao invés de a direccionar. Exijam que estejam interessados na aula. Exijam que a desculpa, “Vocês têm de aprender isto para o teste” não seja suficiente para vocês. A educação é uma óptima ferramenta, se usada convenientemente, mas o foco deverá ser mais em aprender do que em tirar boas notas.

Para os de vós que trabalham dentro do sistema que estou a condenar, não tenho intenção de insulto; tenho por intenção motivar. Vocês têm o poder para mudar as incompetências do sistema. Eu sei que não se tornaram professores ou administradores para verem os vossos alunos aborrecidos. Não podem aceitar a autoridade dos corpos governamentais que vos dizem o que ensinar, como ensinar e que serão castigados se não obedecerem. O nosso potencial está em jogo.

Para os de vós que estão agora a sair deste estabelecimento, eu digo, não se esqueçam do que aconteceu nestas salas de aula. Não abandonem os que vêm depois de vós. Nós somos o novo futuro e não vamos deixar que a tradição continue. Nós vamos quebrar as paredes da corrupção e deixar crescer um jardim de conhecimento na América. Uma vez educados propriamente, nós iremos ter o poder de fazer qualquer coisa, e melhor de tudo, apenas iremos usar esse poder para o bem, porque seremos cultos e sábios. Não aceitaremos nada superficialmente. Nós iremos colocar questões e exigir a verdade.

Então, aqui estou. Não estou aqui como a melhor da turma sozinha. Fui moldada pelo meu ambiente, por todos os meus colegas que estão aqui sentados a observarem-me. Não teria cumprido isto sem todos vocês. Foram todos vocês que verdadeiramente me fizeram a pessoa que sou hoje. Foram todos vocês que eram a minha competição, mas também a minha força. Nesse sentido, somos todos os melhores.

Agora supostamente devo dizer adeus a esta instituição, aos que a mantém e aos que estão comigo e atrás de mim, mas espero que este adeus seja mais um “até já” quando estivermos todos a trabalhar conjuntamente para iniciar um movimento pedagógico. Mas primeiro, vamos buscar esses pedaços de papel que nos dizem que somos suficientemente inteligentes para o fazer!